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Teste do Olhinho - SBP ciência


Reflexo Vermelho - Teste do Olhinho


Nicole Oliveira Mota Gianini1
Introdução:

A cegueira infantil é a segunda causa mais importante de perda de visão. A sua importância é maior se levarmos em conta o índice anos/cegueira (número de cegos x expectativa de vida). Há uma estimativa de que haja no mundo cerca de 1.5 milhão de crianças cegas. A preocupação com a cegueira infantil, assim deve mobilizar a todos, em especial, o pediatra por estar envolvido nas estratégias que possam modificar esse panorama. Em vários países do mundo a preocupação com a cegueira infantil fez com que a detecção da catarata congênita ocupe um lugar de destaque entre causas de baixa e perda de visão infantil de causa evitável
Reflexo vermelho:

O “reflexo do olhinho” é, na realidade, o reflexo vermelho (ou teste do reflexo de Bruckner), que vem sendo assim chamado para fazer uma analogia com o “teste do pezinho” e o “teste da orelhinha”.Todos com lógica semelhante – rastreamento da patologia, antes que apresente clínica, com a finalidade de permitir uma intervenção oportuna evitando ou minimizando os efeitos da evolução natural do agravo.
Como recomenda a Academia Americana de Pediatria em sua publicação de 2002, e atualizada em 20081, não é apenas o reflexo vermelho que deve ser realizado. Todo pediatra deve fazer a avaliação da criança do nascimento até os três anos com exame oftalmológico: história ocular, avaliação visual, inspeção externa do olho e pálpebra, avaliação da motilidade ocular, exame da pupila e reflexo vermelho.1,2 No Brasil a recomendação também é esta – é fundamental que o pediatra seja orientado a incorporar o exame oftalmológico3 ao seu exame de rotina do recém-nascido, que “olhe o olho” como avalia deformidades físicas, descreve lesões de pele ou realiza a manobra de Ortolani.4Definição/ técnica.
O reflexo vermelho é o exame de rastreamento (screening) para anormalidades oculares , desde a córnea até o segmento posterior. Qualquer opacidade dos meios transparentes poderá ser detectada por esse exame.. Deve ser feito em sala escurecida com oftalmoscópio ou retinoscópio seguro próximo ao olho do examinador e aproximadamente a um braço de distância do olho da criança. É considerado normal quando os dois olhos apresentam um reflexo vermelho brilhante. Pontos pretos, assimetria ou a presença de reflexo branco (leucocoria) demandam uma avaliação mais cuidadosa – realizada pelo oftalmologista. 1

Importância

Catarata é qualquer opacificação do cristalino e pode afetar significativamente a função visual. O termo catarata congênita refere-se a opacidades presentes ao nascimento. Contudo, a opacificação pode surgir durante o primeiro ano de vida. Cerca de 25% das cataratas infantis são hereditárias, especialmente as bilaterais. Assim sendo, ao examinar uma criança com catarata devemos, também, investigar os familiares.
A forma mais freqüente de herança é a autossômica dominante, com expressividade variável, mas em geral com penetrância completa. Outras causas possíveis de catarata infantil são as doenças metabólicas (galactosemia, por exemplo), infecções congênitas (rubéola), mal formação ocular, síndromes genéticas, medicamentos, radiação e idiopáticas.3,5
Além da importância para garantir um bom desenvolvimento e para o diagnóstico de catarata congênita, o reflexo vermelho também permite rastrear doenças oculares graves, como o retinoblastoma, glaucoma congênito, entre outras.6
Implantação da rotina de exame
A avaliação do reflexo vermelho é uma recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica , uma política de saúde da Academia Americana de Pediatria, em conjunto com a Academia Americana de Oftalmologia e Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo e lei municipal em várias cidades do Brasil. 1,6
Outras estratégias em prevenção de cegueira
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e suas filiadas vêm se debruçando sobre as questões da cegueira infantil. Além do reflexo vermelho há um grupo de trabalho com participação da Sociedade de Oftalmologia Pediátrica e SBP, se dedicando à prevenção da cegueira por retinopatia da prematuridade.7,8,9,10,11
Um passeio pelos sites evidencia inúmeras estratégias para informar e alertar o pediatra sobre a importância do exame ocular, incluindo o reflexo vermelho, como parte do exame físico de rotina da criança.7,8,9
O pediatra, que tem como objetivo principal garantir o crescimento e o desenvolvimento de uma criança, não pode deixar de se preocupar com a visão. Como em todos os itens de exame físico completo: aferição da pressão arterial, realização de todos os reflexos tendinosos, exame neurológico detalhado (marcha, equilibrio etc) não há uma orientação "formal" de quando um exame "completo" deve ser realizado.
O mesmo ocorre com o reflexo vermelho - a literatura não recomenda uma periodicidade específica, apenas faz referência que o exame do olho (não apenas o reflexo vermelho) - como mobilidade, pupilas etc - faz parte do exame físico.
O Grupo de Trabalho de Prevenção da Cegueira da SBP – composto por pediatras e oftalmologistas, sugere o seguinte:
1. Antes da alta da maternidade.

2. Na primeira consulta de puericultura (há ocasiões em que o pediatra que fez a sala de parto não será o pediatra que fará a puericultura).

2. Dois meses de vida (até os três meses é o melhor período para a cirurgia de catarata).

3. Com 6,9 e 12 meses de vida.

4. Após 1 ano: duas vezes por ano.

5. Não perder oportunidades: caso atenda alguma criança que não acompanha rotineiramente - fazer o exame - pode ser determinante para o prognóstico.

Referências bibliográficas:
1.      American Academy of Pediatrics – Section on Ophthalmology, American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus, American Academy of Ophthalmology, American Association of Certified Orthopists. Policy Staement. Red Reflex Examination in Neonates, Infants, and Children. Pediatrics 2008; 122(6):1401-1404. ERRATA: Pediatrics 2009; 123(4): 1254.
2.      Committee on Practice and Ambulatory Medicine of American Academy of Pediatrics, Section on Ophthalmology of American Academy of Pediatrics, American Association of Certified Orthopists, American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus and American Academy of Ophthalmology. Eye Examination in Infants, Children, and Young Adults by Pediatricians.Pediatrics 2003;111(4): 902-907
3.      Gianini, NOM & Lanzelotte VMR. Avaliação Oftalmológica do Recém-nascido ao Adolescente. In: Diagnóstico em Pediatria. Silva, LR.. Editora Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro. 2009; pp. 475-485.
4.      Graziano RM. Exame Oftalmológico do Recém-Nascido no Berçário: uma rotina necessária. Jornal de Pediatria 2002; 78(3): 187-8.
5.      Isenberg SJ. Eye Disorders. In: Neonatology: Pathophysioloagy & Management of the Newborn. Avery GB, Fletcher MA & MacDonald MG. Fifth Edition. Philadelphia. 1999;pp. 1285-13000.
1.      Lanzelotte VMR. Implantação do Exame do Reflexo Vermelho nas Maternidades da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Monografia (especialização) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Biológicas e de Medicina. 2005; pp. 51.
2.      Sociedade Brasileira de Pediatra. Grupo de trabalho de prevenção da cegueira infantil.
3.      Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro.
4.      Sociedade de Pediatria de São Paulo.
5.      Sociedade Braisleira de Oftalmologia Pediátrica
6.      Gianini, NOM. Neonatologia: Triagem Visual. In: Tratado de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria. Lopez, FA & Campos Jr, D. Segunda edição. Barueri – SP. 2010; pp.1559-1563.
1Doutora em Saúde da Criança – IFF - FIOCRUZ
Diretora de Clínica do CETRIN
Coordenadora da Câmara Técnica de Neonatologia da SMSDC-RJ
Coordenadora do Grupo de Trabalho de Prevenção de Cegueira Infantil da SBP
Membro do Comitê de Neonatologia e Nutrição da SOPERJ

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